sábado, 11 de dezembro de 2010

O amor e outros estranhos rumores

Por Eduardo Araujo

Fui no domingo com amigos assistir a esta peça onde vemos encenadas três histórias de Murilo Rubião. Em todas, Débora Falabella está no centro, o que é limitação e força desta peça. O longo e monótono monólogo inicial interpretado por ela (travestida de homem) perde em força por sua voz fraca e no equívoco, de próximo ao desfecho, descaracterizar-se, revelando a atriz sob a figura masculina. Desnecessária. Na segunda, ela retorna fazendo múltiplas mulheres, e o fato de contracenar com um ator muito seguro, permite a ela crescer em personas femininas, da sensual, jocosa, à recatada. No terceiro conto, ela realmente encanta no papel da esposa que engorda a cada pedido que faz. Interpretando com economia (mesmo travestida com uma roupa-balão), seus olhares enchem de graça e gracejo a personagem mais insólita da peça, e que tinha tudo para ser a mais antipática. E chega ao fim, com a amarração frouxa da abertura, homens com bilhetes em branco a espera de um trem, e que nada acrescenta, num preâmbulo e desfecho tanto artificial quanto desnecessário. Fica a certeza de que a peça poderia ser mais longa, entrelaçar outros contos do autor e, principalmente, arriscar mais, pois ainda que limitada a três história curtas, apresenta muitos vãos, vácuos, cenas que se dilatam sem força e sem grande significação. O cenário limpo, cheio de passagens e elementos bem aproveitados, o figurino finíssimo/retrô (coisificando os seres), a bela movimentação, o uso da projeção de modo criativo no fundo do cenário, e a figura insólita do coelho, costurando as cenas, faz de O amor... um belo espetáculo que, para honrar o caos surrealista, o nonsense fantástico e prosaico de Murilo Rubião, carecia de mais sujeira (ainda que aparente) e menos meticulosidade. Algo que ficasse (seria possível?) entre Antunes e Zé Celso, precisão, desplante e fluidez, um teatro para não se esquecer, onde certamente a pequena/grande menina Falabella teria certamente o seu lugar.

Eduardo, amigo querido, lindo e inteligentíssimo.
Ao seu lado é muito difícil este ato já doloroso de escrever.
Fui buscar em seu blog Revide, este texto sobre o espectáculo que asstimos juntos.
Obrigado Dú

Nenhum comentário:

Postar um comentário